quinta-feira, 5 de junho de 2014

Uma puta história no Itatinga (29/12/1998)

No dia 02 de junho de 1975, um grupo de aproximadamente 150 prostitutas ocuparam a igreja de Saint-Nizier, em Lyon na França. Elas protestavam contra as multas e detenções. Pela coragem de romper o silêncio, denunciar o preconceito, a discriminação e as arbitrariedades, as prostitutas entraram para a história. Por essa razão o dia 02 de junho foi declarado, pelo movimento como o Dia Internacional da Prostituta.

Senta que lá vem história, e essa é uma "puta" história.
A pauta foi no Jardim Itatinga (zona de prostituição de Campinas), lugar onde malandro é malandro e Mané é Mané. Não lembro quem foi o repórter ou a repórter que me acompanhou nessa missão quase impossível. A regulamentação da profissão de prostituta estava  para ser aprovada no Congresso Nacional (não sei se foi ou não aprovada a tal lei). E a nossa missão naquela tarde quente do dia 29 de dezembro de1998 era encontrar uma puta para ser a personagem da matéria. Não sei se vocês sabem, mas nesse lugar jornalistas quase nunca são bem vindos com raras exceções. Chegamos na zona conversávamos com as donas das casas sobre a matéria e elas sempre diziam, " por mim tudo bem, agora se elas querem falar eu não sei". E falar nem era muito o problema, o problema maior era a foto. Fotografar a prostituta e estampar as fotos dela no jornal como. "Profissão: Puta". Ninguém queria fazer o tal retrato. Lembro que para convencer as "moças", eu dizia: olha agora com essa regulamentação você vai poder se aposentar, recolher INSS, já pensou no seu futuro? Uma delas estava chapada e foi honesta demais comigo. Quando acabei meu discurso ela disse: vai se foder seu filho da puta. Fotografa a sua mãe e põe ela no jornal. Já estávamos desistindo da matéria por falta da personagem, quando resolvemos fazer uma última tentativa. As respostas foram as mesmas. Mas quando já saindo da casa uma das donzelas disse: "eu não sou daqui, logo, logo vou embora dessa cidade, ninguém me conhece, e ninguém sabe quem eu sou e de onde venho. Eu faço a foto". A dona da casa ficou mais surpresa que eu com a atitude dela e ainda tentou alertá-la, "porra, vai sair que você é puta, tudo bem?  E fomos em frente. A tal personagem fez aquele famoso gesto com o dedo indicador me chamando para entrar no quarto. Fui caminhando pelo corredor que tinha uma luz vermelha desbotada e combinava com a música que tocava naquelas máquinas de ficha, Menina Veneno. Lembra do abajour cor de carne? Mas o melhor ainda estava por vir.  Quando entrei no quarto a moça estava deitada completamente nua e de pernas abertas.  Olhou para mim e disse: "pode tirar". Pensei, putaquipariu! E nem pude rir. Expliquei  que a foto não poderia ser dela sem roupa. A reação da moça foi, mais uma vez, surpreendente: ué por que será que nenhuma das meninas quiseram fazer a foto, se é para fazer de roupa? Foi muita surpresa naquele dia.  Não sei se por respeito à inocência, isso mesmo inocência, da mulher não fiz a foto dela nua na cama. Até hoje me faço essa pergunta. A foto a ser feita era: uma prostituta segurando uma carteira de trabalho. A profissão mais antiga do mundo me deu muito trabalho naquela tarde. Viva o Puta Day!

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